segunda-feira, 16 de junho de 2014

'Seu' Gersom

Lá vinha ele subindo a rua, todo arrumadinho vestido num terno verde claro - acho que o tom era mais para um verde oliva! Passou por mim, estava parada na calçada aguardando o Eduardo chegar no transporte escolar, e deu uma olhada para trás, voltando em seguida para puxar conversa. 

- A senhora é a proprietária da casa? 
Sou sim! Respondi, reparando que o homem era bem menor do que parecia, acho que não passava de um metro e meio de altura. 
- Nossa! É a primeira vez que vejo esse portão aberto! Disse ele e foi logo sacando um cartãozinho do bolso do terno. 
- Sou jardineiro! Tem jardim ai? 
- Tem sim, pequeno mas tem. O senhor quer dar uma olhada? 
Ele veio ligeiro e colocou a cabeça dentro do portão. 
Reparei no jeito carinhoso com que passou as mãos sobre as plantas e foi falando o nome de cada uma delas. Era mesmo um jardineiro, pois não só acertou os nomes das plantas como as olhou com olhar carinhoso, cheio de admiração. 
Me deu uns toques para deixá-las mais vistosas e arriscou ao dizer: 
- Se a senhora quiser eu posso vir amanhã para limpar seu jardim. 
Respondi  que estava interessava nos seus serviços, mas antes teria que programar o serviço, precisava comprar novas plantas, sacos de terra e ter a certeza de que o meu jardineiro não poderia vir (esse então é um figuraça! Gosto demais dele, e num outro texto falo sobre ele).   
Para não deixar dúvidas, descreveu seu curriculum e deu ênfase nos clientes que tem.

Gersom com "m" no final é o nome dele. 
Garantiu que tem mais de 74 anos. Não parece! Conserva um rosto de garoto, acho que é por causa dos cabelos penteados para o lado (tive a impressão que conserva o mesmo penteado desde quando era garotinho).  

Combinei  que entraria em contato quando fosse preciso e ele foi andando rumo ao seu destino, disse que ia à igreja. Conforme ele andava pela rua, conversava e cumprimentava todo mundo. Percebi que ele é conhecido e querido pelos vizinhos. Seu Gersom parece ser uma pessoa feliz, transmitiu isso, pois conhecê-lo me deixou feliz também.

Eu acredito que transmitimos o que somos às outras pessoas em gestos simples, como por exemplo, numa simples conversa. Aliás, acredito muito em conversas, pois é um meio eficaz de ouvirmos as palavras e o coração das outras pessoas. 

Eduardo chegou, dei um beijo nele e entramos. 
Preparei o jantar, mas meu pensamento estava nele, no seu Gersom.
Saiu um riso da minha boca e mais uma vez tive a certeza: 

A felicidade está em momentos vividos por aqueles que encontraram sentido naquilo que é simples e ao mesmo tempo tão nobre, como por exemplo, cuidar de jardins, preparar um jantar gostoso, ver o filho chegar da escola…

Meu cotidiano, 
por Magda Rodrigues 


Quem não planta jardim por dentro,
não planta jardins por fora
e nem passeia por eles
Rubem Alves 




5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Magda,
    Li, reli, e sobre "o texto" pensei...
    ... cotidiano.. simples..

    talvez à muitos passaria despercebido estes fatos,
    mas não à alguém sensível,
    alguém em "contato com o Amor",
    Amor ao próximo,
    a forma que o seu Gersom com "m"
    faz transbordar em você este sentimento,
    a forma que tal "simples cotidiano" a força colocar no papel,
    deixa claro, visível o quanto és belas suas impressões e sentimentos da Vida.
    Simplesmente lindo...
    Obrigada por compartilhar.

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  3. Tão Magda isso! Esse senhor Gersom é igual vc. Belo texto. Bjs.

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  4. Que lindo Magda! Parabéns!! Ando bem chorona.... rs... E, claro que... me fez chorar!! haha
    Amei o Seu Gersom!! rs... Você o descreveu tão bem... :)
    Deus te abençoe e te inspire cada vez mais!
    beijos...

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