Para aqueles que como eu
que já tem mais de 40 anos, o texto abaixo é uma viagem ao tempo às nossas
antigas moradias.
Num dia desses, fui até
uma doceria em Pinheiros que, quando adolescente, frequentava quase que
diariamente. Não pude deixar de reparar no piso original e na pia do banheiro,
ambos feitos com caquinhos de cerâmica.
Ah, que delicia rever aquilo! Até consegui sentir o cheiro bom de quase trinta anos atrás, onde eu e minhas amigas do Banco, jogávamos conversa fora nos nossos restritos 30 minutos de almoço, saboreando a saltenha maravilhosa que até hoje esse lugar faz.
Ah, que delicia rever aquilo! Até consegui sentir o cheiro bom de quase trinta anos atrás, onde eu e minhas amigas do Banco, jogávamos conversa fora nos nossos restritos 30 minutos de almoço, saboreando a saltenha maravilhosa que até hoje esse lugar faz.
Em algumas das casas que
morei, tinha o tal piso e minha mãe fazia questão de vê-lo brilhando com uma
camada generosa de cera vermelha onde eu e minha irmã dávamos o acabamento,
lustrando com o esfregão, e depois escorregando divertidamente com nossas
roupas de ficar em casa até ouvir minha mãe dar um grito mandando a gente
parar com aquilo.
-
Essa brincadeira
vai dar pelo nariz! - gritava ela.
Na casa da minha tia Elza,
também tinha o tal piso no quintal, lembro bem, porque era lá que ela colocava
as crianças para sentarem e comerem o doce de leite condensado fervido na
panela de pressão.
Lembro também dos "caquinhos" na igreja que frequentava. Era praticamente impossível pisar no chão sem reparar na gigante metragem daqueles caquinhos vermelhos, revestindo o chão onde brincávamos de pega-pega e esconde-esconde após os cultos.
Lembro também dos "caquinhos" na igreja que frequentava. Era praticamente impossível pisar no chão sem reparar na gigante metragem daqueles caquinhos vermelhos, revestindo o chão onde brincávamos de pega-pega e esconde-esconde após os cultos.
Num dia, me escondi em
cima de uma Perua Kombi e ninguém me achava. Como o estacionamento era escuro,
o dono da Kombi, não me viu, deu a partida e começou a manobrar, dei um salto e
quase morri de susto.
Caquinhos vermelhos fazem
parte da história de muita gente e por isso, achei interessante
compartilhar esse texto que achei e me maravilhei com seu conteúdo.
Espero que goste. Boa
leitura.
Piso de
caquinhos
Pode algo quebrado valer
mais que a peça inteira? Aparentemente não, mas no Brasil isso já aconteceu
isso!
Tudo começou nas décadas
de 40 e 50. A cidade de São Paulo era servida por duas indústrias de cerâmicas
principais. Um dos produtos dessas empresas era um tipo de lajota quadrada
produzida nas cores vermelha (a mais comum e barata), amarela e preta, que eram
usadas para pisos de casas de classe média ou comércios.
No processo industrial da
época aconteciam muitas quebras e todo esse material perdido e sem interesse
econômico era recolhido e enterrado em grandes buracos. E naquele tempo os
lotes dos operários eram totalmente cimentados com sua monótona cor cinza, pois
os mesmos não tinham dinheiro para comprar as lajotas que eles mesmos produziam
e com isso, cimentar o quintal era a regra.
Certo dia, um dos
empregados de uma das cerâmicas e que estava terminando sua casa não tinha
dinheiro para comprar o cimento para cimentar todo o seu terreno e lembrou do
refugo da fábrica, caminhões e caminhões por dia que levavam esse refugo para
ser enterrado num terreno abandonado perto da fábrica. O empregado pediu que
ele pudesse recolher parte do refugo e usar na pavimentação do terreno de sua
nova casa. Claro que a cerâmica topou na hora e ainda deu o transporte de graça
pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição.
Agora a história começa a
mudar por uma coisa linda que se chama arte. A maior parte do refugo recebida
pelo empregado era de cacos cerâmicos vermelhos mas havia cacos amarelos e
pretos também. O operário ao assentar os cacos cerâmicos fez inserir aqui e ali
cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho contínuo. É, a
entrada da casa do simples operário ficou bonitinha e gerou comentários dos
vizinhos também trabalhadores da fábrica. Ai o assunto pegou fogo e todos
começaram a pedir caquinhos o que a cerâmica adorou pois parte, pequena é
verdade, do seu refugo começou a ter uso.
Depois disso, o piso de
caquinho virou moda e saiu até nos jornais! A classe média adotou a solução do
caquinho cerâmico vermelho com inclusões pretas e amarelas. Como a procura
começou a crescer a diretoria comercial de uma das cerâmicas descobriu ali uma
fonte de renda e passou a vender os cacos a um preço baixo. Depois disso a
mania cresceu e cresceu! E começou a faltar caquinho... Foi quando as empresas
começaram a quebrar as lajotas para obterem mais caquinho e o preço ficou até
mais caro que as lajotas inteiras!
A história termina nos
anos sessenta com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que
usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a
ter lotes menores ou foram morar em favelas.
São histórias da vida
que precisam ser contadas para no mínimo se dizer:
– A arte cria o belo,
e o marketing tenta explicar o mistério da peça quebrada valer mais que a peça
inteira…
(A História foi contada
por Manoel Henrique Campos Botelho, Engenheiro Civil e autor da coleção “Concreto
Armado Eu te Amo”)
Que delícia de texto! Realmente nos leva à nossa infância!! Eu já até apanhei por conta desses tais caquinhos brilhantes... rs... Amei! beijos
ResponderExcluirAh se esses "caquinhos" falassem... eles que nos contariam as tantas travessuras de crianças né Deah? Obrigada pelo apoio. Beijos
ExcluirLi todos os posts do seu blog... Tão amável e doce quanto você. Parabéns e obrigada por compartilhar!!! Abraço
ResponderExcluirCamila, muito obrigada pelo apoio. Um abraço bem grande para você.
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