sábado, 6 de fevereiro de 2010

A mulher, a menina e uma panelinha


A mulher, a menina e uma panelinha

Nunca mais vou esquecer aquele dia que passei na Ilha de Inhansungue em Moçambique.
Depois de visitar alguns doentes no único hospital da ilha e andar por entre aquele povo sofrido, sentei-me numa muretinha visivelmente cansada e abatida. Ao menos as pernas descansariam um pouco.
O descanso acabou quando ouvi um choro constante e sofrido que vinha da direção de uma uma mangueira. Fui até lá e encontrei uma menina que deveria ter não mais do uns cinco anos de idade. Ela chorava muito, copiosamente!
Um funcionário do hospital me disse que ela queria a mãe e que as duas moravam ali mesmo, debaixo daquela árvore. Fiquei compadecida e naquele momento a única coisa que queria era ver aquela menina parar de chorar. Saquei da bolsa um lencinho umedecido e dei para ela brincar (percebi que o lenço era novidade para ela) enquanto que, com outro lenço, limpava suas perninhas sujas e cheias de feridas. Não demorou muito e a mãe chegou e me olhava sem dizer palavra alguma. As muitas moscas em sua boca parecia que não a incomodava. Fiquei consternada com aquela cena.
Calmamente, ela guardou em cima de um barquinha de madeira, o único bem material que possuía, uma panelinha! Depois disso, pegou a menina, amarrou- a em suas costas com uma capulana surrada e fétida. As duas sentaram no banco e ali permaneceram, apenas aguardando a vida passar.




Magda de Angelo - maio/2009 

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